NOTICIA - Robyssão diz que vai se afastar dos palcos em 2015: 'Só volto para o Carnaval'

O cantor Robyssão chegou ao Bahia Notícias posando de "Gângster do Bem". Afinal, esse é o papel criado para a nova fase da sua carreira, que integra o projeto Bailão do Robyssão. Na entrevista, o músico fala sobre religião, a conciliação de letras com apelo sexual e o fato de ser evangélico. Contraditório, ele primeiro afirma que não canta por dinheiro, mas que, depois que saiu em carreira solo, pensa mais como empresário que como artista. Ele, inclusive, deve deixar os palcos um pouco de lado a partir de 2015, quando pretende parar o ano todo e voltar apenas no período do Carnaval. Ele ainda comenta sobre a polêmica de receber o cantor Dudu, ex-New Hit, acusado de estupro, no palco da estreia do Bailão. 

Fotos e vídeo: Alexandre Galvão / Edição do vídeo: José Marques | Bahia Notícias
Bahia Notícias – Você está com o novo projeto do Bailão do Robyssão, que mistura pagode com funk, assim como o BlackStyle. O que mudou da banda que você saiu para a carreira solo?
 
Robyssão – Bom, durante o período da BlackStyle eu fazia muita música de duplo sentido e agora eu trabalho mais com música de ostentação, que é a nova tendência do mercado fonográfico. A diferença é essa. Então eu falo sobre festa, mulheres, danças, coreografias e tal.
 
BN – Chegou a ser cogitado que você seguiria carreira gospel. Foi uma opção? Você deixaria o pagode pela música gospel?
 
R – Essa notícia sempre foi irrelevante. Eu sempre cantei, independente de estar na Blacktyle, com muito prazer. Não era visando lucro, nem negócios, nada disso. Era por prazer, por hobby, eu gosto. Meu louvor é pelo que eu gosto de louvar, mas nada profissional. Nunca nem pensei em fazer carreira gospel. Então nunca foi uma opção.
 
BN – Como é para você, sendo evangélico, cantar músicas com apelo sexual e pornográfico?
 
R – Nem tudo que parecer ser, é. Vejo muita gente, principalmente nos dias de hoje na mídia, com gravata, paletó, mostrando ser uma pessoa exemplar, mostrando ser um líder religioso, sendo preso por atos libidinosos ou por extorsão, fraude. Então, nem tudo que parece ser, é. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu acho que o cara pode ser evangélico e trabalhar e comer do suor de seu trabalho. Acho que isso não tem nada a ver. O cara pode continuar trabalhando, ter sua opção religiosa e ter suas conquistas licitamente, conquistando seus bens e realizando seus sonhos, trabalhando dignamente.
 BN – Você frequenta alguma comunidade religiosa, igreja?
 
R – Não, porque Jesus nunca construiu templo nenhum, então eu creio no Deus vivo. Acho que com o passar do tempo a gente vai conhecendo a verdade e vê que basta crer nesse Deus. Já frequentei muito. Meu guia são as escrituras
 
BN – Você tem um estilo musical bem liberal, mas é evangélico, que é um modelo mais conservador. Qual sua posição em relação a temas como aborto e casamento homossexual?
 
R – Em primeiro lugar, eu acho que não sou religioso. Vale salientar que eu creio num Deus vivo. Existe uma diferença entre ser religioso e crer. Eu creio nesse Deus vivo. Eu acho que religião hoje em dia está muito mais associada a negócios do que a fé. E falar sobre aborto, homossexualidade, eu sinceramente acho que é algo comum, corriqueiro nos dias de hoje, na música. Você vê que quase todo mundo fala, aborda esse mesmo tema. Acho muito natural.
 
BN – Você tem alguma posição definida com relação a esses temas?
 
R – Não, não. Acho que é necessário esclarecer, elucidar para o público, para que seja bem claro mesmo que é uma forma de irreverência, de entretenimento. E não para humilhar, nem denegrir a imagem do homossexual, nem de qualquer pessoa que tenha uma orientação sexual diferente.
 
BN – Desde que deixou o BlackStyle, você ficou um pouco mais discreto, caminhando aos poucos no meio artístico. Isso é uma estratégia ou está encontrando dificuldades?
 
R – Não, não. É uma estratégia. Graças a Deus, minha carreira, desde que eu sai, já obtive êxito, logo no início da carreira solo. E minha agenda hoje é cheia, graças a Deus. Só que eu sou um artista que eu não gosto muito da fama. Acho que a fama atrapalha um pouco, embora o artista precise da fama. Talvez até seja um erro meu em pensar mais como empresário do que como artista. Penso mais nos fins lucrativos do que na imagem do artista. Como BlackStyle, eu tinha um pensamento já como empresário, mas tinha sócios que me levavam a pensar como artista. Mas hoje não. Como eu sou empresário e artista ao mesmo tempo, acabo tendo esse defeito de pensar mais como empresário do que como artista. Mas hoje estamos vivendo o momento mais fácil e de grandes oportunidades e privilégios na música por causa da internet. Então hoje não é tão necessário, crucial estar na mídia. Hoje o que é mais importante é você gravar um bom disco e usar a internet como meio de divulgação. O que importa para o artista é a agenda de shows. Se você faz um trabalho e sua agenda de show está cheia, é isso que importa.
 
BN – Você faria algo como Manno Góes fez no Jammil e deixar a carreira musical para agenciar e atuar como empresário?
 
R – Na minha vida é tudo planejado. Eu era da Blackstyle e fiquei um ano planejando minha carreira solo e graças a Deus deu tudo certo da forma como eu estava esperando, da forma que eu planejei. Em 2015, eu penso em só voltar no verão para o Carnaval. Ficar o ano todo parado e só voltar no verão, a partir de 2015, 2016 em diante. Faço o Carnaval, paro o ano todo, volto em outubro, mais ou menos, para os ensaios e cuido de outros negócios meus, que eu não estou tendo muito tempo. E realmente banda consome muito a pessoa e eu preciso ter tempo, me dedicar mais a minha família, a mim e tal. E não ficar preocupado o tempo todo com banda e agenda.
BN – Você disse, há alguns anos, que estava fazendo um livro baseado na obra 1984. Isso faz parte dos projetos que você disse que anda sem tempo?
 
R – Também, também. Eu dei início, na verdade. Porém, eu realmente não tive tempo, porque a vida é foco. Você tem que focar naquilo que acha necessário, o mais importante da sua carreira. Então hoje a música é meu foco. Não tem como desviar esse foco, porque eu vou deixar pela metade. Você deixar de fazer algo que poderia fazer melhor, sair perfeito. Então eu preciso de um tempo, talvez 2015, quando eu realmente iniciar meus plenos de dar um tempo com a banda, eu volte a escrever. Como eu creio na escritura, a gente precisa ter paciência e temperança, creio muito nisso.
 
BN – Você gravou neste mês o primeiro CD do novo projeto. O que o público pode esperar de novidade?
 
R – Bom, eu pretendo agora em 2014 gravar um novo DVD. Porque eu estou fazendo a linha de DVD de clipes. É uma história do início ao fim, em clipes. Então, eu pretendo em 2014 gravar e lançar.
 
BN – Tem alguma participação que você pensa em colocar?
 
R – Penso, sim. O primeiro nome seria Mr. Catra, né. Mas também pensando cautelosamente nas outras participações.
 
BN – Cada dia você assume mais o lado funk da sua música e chega a ser chamado de MC Robyssão. É uma tendência se afastar do pagode?
 
R – Não, acho que eu pretendo também é enfatizar o funk, que foi muito difícil a entrada do funk aqui no nordeste. Mas não quero me afastar do pagode nunca. Eu quero tentar conciliar e unir esses dois ritmos. Agora eu tenho salientado um pouco mais o funk pelo fato de que ele está em evidência e ganha notoriedade nacional, nos dias de hoje, e por isso eu estou  caminhando um pouco mais no funk.
 
BN – Você tem pegado muitas músicas do funk e adequado ao modelo do pagode. Você pretende continuar com isso ou criará mais músicas próprias no Bailão?
 
R – Não, por incrível que pareça esse disco agora são músicas quase que autorais. 90% são autorais. Eu acho que o que tinha que dá no funk em termos de tema, eu já fiz. Agora eu estou criando muito, porque o funk virou ostentação tem pouco tempo. Então, em cima da ostentação não tem muita coisa, muitas músicas, não tem muitas opções.  
BN – Você deu uma declaração afirmando que 'o público do pagode sempre admirou a vida do crime'. A repercussão foi bem negativa e sua assessoria chegou a explicar sua declaração. Como você avalia o que foi dito? 
 
R – Primeiro eu não falei isso. Na época eu até falei que achei tendenciosa a notícia. Eu falei que o público do pagode sempre admirou o personagem que eu criei, que é um gângster do bem. O público admirava esse personagem que eu criei. Que o Robson no dia a dia é uma pessoa e o personagem Robyssão é outra. E eu não vivo o personagem. Então eu sempre disse que o público admirava o gângster do bem, que é aquele chefão, o cafetão, o patrão. Sempre disse isso.
 
BN – Então foi mal interpretado o que você disse?
 
R – Eu achei tendenciosa, na verdade.
 
BN – Você também recebeu o cantor Dudu, da New Hit, na estreia do Bailão. Você não acha que pega mal aceitar em seu show um artista que está sendo acusado de estupro?
 
R – Mas assim, quando eu convidei ele estava em cima do palco já. E eu convidei ele como artista. O problema que ele tem na justiça, naquele momento, não me interessava. Eu convidei ele como artista. Até então ele tava na mídia, não estava sendo proibido de fazer shows, eu achei que seria bacana ele fazer a participação comigo.
 
BN – Então você acha que não tem nada a ver a acusação de estupro com a parte profissional? Você não acha que pega um pouco mal, até por conta da declaração que já tinha tido sobre o crime?
 
R – Eu acho que não. Porque é como eu falei, aquele foi um momento. Ele estava em cima do palco. Não foi algo planejado. Ele estava no palco e eu achei que o problema que ele tinha com a justiça, que é pessoal, não interferia no lado profissional. Eu como artista, já que a justiça não o proibiu de fazer shows, nem participações já que ele estava em meu show, de repente eu achei bacana. E até para poder elucidar que o pagode não é isso, não é estupro. Nem todos os artistas do pagode têm um vínculo com o crime. Até porque depois da New Hit, ficou um pouco associado o pagode com a criminalidade, com o estupro, com o desrespeito. Então foi até bom para mostrar ao público que também existe profissionalismo, que existem profissionais que não associam ao crime, não usam drogas, tipo eu.